sexta-feira, janeiro 14, 2005

Medo

Digo que tenho medo
e, no entanto, sigo.
Acusador, um dedo
põe-me em guerra comigo.

Fujo do que me chama,
o que me quer recuso.
Nada do que possuo é meu na cama
de que é meu só o uso.

É por dentro de mim que à desfilada
correm cavalos loucos de secura.
Noite que não acorda a madrugada,
desvendo-me à procura
de mim mesmo - ou de nada.

("A Porta da Europa", 1978)