segunda-feira, março 27, 2006

Lisboa

Nada sabes de mim
e, no entanto, eu amo-te,
pássaro inquieto e frágil que descansas
na janela do meu tédio.
Nada sabes de mim
e, no entanto, eu amo-te.

Podia debruçar-me e súbito falar-te,
mas ignoro as palavras necessárias.
Estou aqui de passagem e não trago
outra bagagem que não seja o espanto
incrédulo de amar-te.

Admito que é possível esquecer-te,
quando no cais faltarem as gaivotas
e o seu canto comum ao fim da tarde.
Mas eu estarei então demasiado longe
e apenas rodeado da lembrança,
sob águas profundíssimas e quietas.

("Lucro Lírico", 1973)